MULHERES NA ARQUITETURA
O Docomomo São Paulo está lançando uma série especial de posts dedicados às mulheres na arquitetura.
Convidamos pesquisadoras e pesquisadores a compartilharem seus trabalhos sobre o tema, para que possamos colaborar na divulgação e no reconhecimento dessas importantes contribuições.

ARINDA DA CRUZ SOBRAL
Abrindo a série, destacamos a pesquisa de Camila Belarmino, da USP, que resgata a trajetória de Arinda da Cruz Sobral, reconhecida como a primeira arquiteta do Brasil. Um estudo fundamental para compreender e valorizar o papel das mulheres na história da arquitetura nacional.
A Primeira Arquiteta do Brasil e Seu Resgate Histórico
Apesar de ter um projeto localizado em área tombada pelo IPHAN, Arinda da Cruz Sobral, a primeira arquiteta do Brasil, permaneceu esquecida por décadas. Sua história começou a ser resgatada pela historiadora Camila Belarmino, que identificou Arinda entre as 28 primeiras mulheres matriculadas no curso de arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), entre 1907 e 1938.
Arinda projetou a Capela São Silvestre, concluída em 1918, no Parque Nacional da Tijuca, Rio de Janeiro. A obra foi inaugurada com a presença do presidente Hermes da Fonseca, e seu nome chegou a ser mencionado na imprensa. No entanto, com o tempo, sua autoria foi apagada dos registros oficiais.
A omissão do papel de Arinda reflete o apagamento das mulheres na historiografia da arquitetura. Para Camila, isso reforça a ideia de que as grandes obras são atribuídas exclusivamente a figuras masculinas excepcionais. "A recuperação dessa trajetória não apenas reconhece as mulheres que ajudaram a consolidar a arquitetura no Brasil, mas também questiona essa narrativa de genialidade individual."
Atualmente, Camila trabalha para oficializar o reconhecimento de Arinda, propondo uma homenagem pública, a restauração da capela e a recolocação da placa de autoria do projeto. A pesquisa faz parte de seu doutorado no IAU-USP, onde estuda a atuação das mulheres na arquitetura e no urbanismo entre 1910 e 1960.

MARIA DO CARMO SCHWAB
a dissertação "Uma investigação sobre a linguagem projetual: repertório e processos de projeto na obra de Maria do Carmo Schwab", desenvolvida pela pesquisadora Julia Pela Meneghel no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da UFBA.
Maria do Carmo Schwab (1930–) foi uma arquiteta pioneira no Espírito Santo, formada no Rio de Janeiro em 1953. Sua trajetória incluiu experiências marcantes, como a participação no projeto do Conjunto Pedregulho, sob orientação de Affonso Eduardo Reidy, consolidando uma abordagem racional e adaptada ao contexto local.
De volta ao Espírito Santo, Schwab atuou em projetos residenciais e institucionais, como o Clube Libanês e o Escritório de Campo da UFES, além de ter sido fundadora do IAB-ES e a primeira mulher a presidir um departamento estadual do IAB no Brasil.
A pesquisa de Meneghel analisa sua obra através de quatro eixos – Edifício-Sítio, Programático-Funcional, Material-Técnico e Estético-Formal –, revelando um repertório consistente e inovador. O estudo também ressalta a importância de valorizar modernidades além do eixo Rio-São Paulo, destacando a produção de arquitetas que desafiaram o cenário predominantemente masculino da época.
Dissertação completa: https://repositorio.ufba.br/handle/ri/38901
Blog: https://mariadocarmoschwab.wordpress.com/2014/11/16/bem-vindos-ao-blog-maria-do-carmo-schwab/

DAISY RUTH IGEL
A arquiteta Daisy Ruth Igel, formada no Institute of Design de Chicago e ligada às vanguardas europeias que influenciaram o Sweet’s Catalog, teve um papel essencial na introdução desse modelo no Brasil. Apesar da relevância histórica, tanto a rede transnacional de catálogos quanto a contribuição de Daisy foram esquecidas após os anos 1970.
O Catálogo Brasileiro da Construção (1961-1975) foi uma publicação criada pelo IAB-SP para facilitar o diálogo entre arquitetos e indústrias de materiais de construção, inspirada no modelo do Sweet’s Catalog (EUA). Integrava uma rede global de catálogos similares e foi amplamente utilizado no Brasil em um período de escassez de informações técnicas.
A dissertação "UMA REDE TRANSNACIONAL DE CATÁLOGOS DE CONSTRUÇÃO: do Sweet’s Catalog ao Catálogo Brasileiro da Construção", desenvolvida pela pesquisadora Natália Maria Gaspar para o programa da Universidade Federal de São Paulo, para obtenção do título de mestre discute e debate a cerca desse modelo no Brasil.
Autora: Natalia Maria Gaspar. Orientação Prof. Dr. Fernando Atique
Link de acesso ao trabalho completo: https://sucupira-legado.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=15139884
Natalia M. Gaspar CV: http://lattes.cnpq.br/8311928714567895

MAYUMI WATANABE DE SOUZA LIMA
Mayumi Watanabe de Souza Lima foi uma arquiteta e urbanista brasileira, reconhecida por seu trabalho no Centro de Desenvolvimento de Equipamentos Urbanos e Comunitários (CEDEC) durante a gestão de Luiza Erundina (1989–1992) em São Paulo. Sob sua direção, a equipe do CEDEC projetou Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs) inovadoras, utilizando técnicas como argamassa armada pré-moldada, com ênfase em espaços lúdicos e integração com o entorno urbano.
A dissertação "Arquitetura da Educação: uma análise das escolas municipais de ensino infantil de Mayumi Watanabe de Souza Lima", desenvolvida pela pesquisadora Lígia Gimenes Paschoal, orientada pela professora Tatiana Sakurai, analisa as transformações espaciais nos projetos das Escolas Municipais de Ensino Infantil (EMEI) projetadas pelo CEDEC, sob direção da arquiteta Mayumi Watanabe, entre 1990 e 1992, em São Paulo, durante a gestão de Luiza Erundina. Inserida nas Ciências Sociais Aplicadas (Arquitetura e Urbanismo), a pesquisa adota uma abordagem qualitativa, utilizando entrevistas semiestruturadas, análise de projetos arquitetônicos, documentação primária e estudo gráfico.
O foco recai sobre as modificações nas escolas construídas com argamassa pré-moldada, especialmente nas áreas externas e de brincar, comparando os projetos originais com as configurações atuais. O estudo reflete sobre como essas alterações espaciais e construtivas impactam o edifício e seu entorno, além de discutir mudanças nos programas de necessidades e nos espaços lúdicos. Por fim, busca contribuir para a valorização da trajetória de Mayumi Watanabe, figura ainda pouco explorada na historiografia da arquitetura brasileira moderna e contemporânea.
Autora: Lígia Gimenes Paschoal. Orientação Prof. Tatiana Sakurai
Link de acesso ao trabalho completo: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16138/tde-300
Lígia G. Paschoal CV: http://lattes.cnpq.br/8183134321513623

MARINA WAISMAN
Marina Waisman (1920 – 1997) nasceu na Argentina e se formou em arquitetura na Universidade Nacional de Córdoba (1945), sendo a única mulher da sua turma e apenas duas arquitetas haviam se graduado anteriormente. No seu período profissional foi professora da Universidade Nacional de Córdoba, tendo colaborado na década de 1950 na criação do IDEHA (Instituto Interuniversitario de Historia de Arquitectura). Publicou três livros de arquitetura: “La estructura histórica del entorno” (1972); “El interior de la historia: Historiografía arquitectónica para uso de Latinoamericanos” (1990); “La arquitectura descentrada” (1995).
No ano 1974 constituiu, na Faculdade de Arquitetura da Universidade Católica de Córdoba onde passou então a ser professora, o Instituto de História e Preservação do Patrimônio – atualmente denominado Instituto Marina Waisman (MOISSET, 2015). A partir da década de 1970 foi colaboradora na revista Summa e de 1976 a 1990 editou e dirigiu a Coleção Summarios.
A pesquisa "Arquiteta e editora latino-americana, crítica cosmopolita: os Summarios de Marina Waisman", desenvolvida pela pesquisadora Eloah Maria Coelho Rosa, orientada pela professora: Ruth Verde Zein, tem como objetivo constatar e confirmar a arquiteta como uma pesquisadora crítica cosmopolita e antenada ao contexto cultural, social e político incidente no seu período profissional, tendo como foco o levantamento e análises dos conteúdos publicados nas edições da revista Summarios (1976 – 1990).
A coleção conta com um total de 135 edições e publicava temas de arquitetura, urbanismo de diversos países e continentes, além de edições focadas na produção de alguns arquitetos, sempre trazendo textos críticos com a participação de profissionais de diferentes gerações, formações e nacionalidades.
Para maior conhecimento sobre as Revistas Summarios, as pesquisadoras desenvolveram uma página no Instagram chamada “Os Summarios de Waisman” @os_summarios_de_waisman, onde é divulgada e disponibilizada a Coleção Summarios completa.
Autora: Eloah Maria Coelho Rosa. Orientação Prof. Ruth Verde Zein
Link da pesquisa "Arquiteta e editora latino-americana, crítica cosmopolita: os Summarios de Marina Waisman": https://bv.fapesp.br/pt/bolsas/211095/arquiteta-e-editora-latino-americana-critica-cosmopolita-os-summarios-de-marina-waisman/
Eloah Rosa. CV: https://lattes.cnpq.br/9995600428119562
Crédito imagem:
https://revistaprojeto.com.br/acervo/a-critica-hoje-no-mundo-por-marina-waisman/