EDIFÍCIO MARAHÚ
São Vicente
Autor: Lauro da Costa Lima
Vista da elevação frontal Edifício Marahú (2024). Fonte: Fotografia de 'Rafa D'Andrea.
Edifícios Marahú, 1959, Tendaí, 1960, Humaitá, 1965 e Mainumbi, 1955 (da esquerda para direita). Fonte: Fotografia de 'Rafa D'Andrea.
Vista da elevação frontal Edifício Marahú (2024). Fonte: Fotografia de 'Rafa D'Andrea.
Imagens da obra
Plantas do Edifício Marahú. Redesenho do autor. Fonte: acervo pessoal.
Plantas e Cortes do Edifício Marahú. Redesenho do autor. Fonte: acervo pessoal.
Plantas do Edifício Marahú. Redesenho do autor. Fonte: acervo pessoal.
Imagens do projeto
FICHA TÉCNICA
Nome da obra: Edifício Marahú
Data do projeto: provavelmente: 1954 / construção / inauguração: 1959
Localização: Avenida Manoel da Nóbrega, 30, Itararé, São Vicente-SP.
Autor(es)(as) do projeto: Arq. Lauro da Costa Lima
Intervenções posteriores: Todo o edifício encontra-se bem conservado e as características arquitetônicas originais mantêm-se preservadas, entretanto há um projeto de gradeamento em andamento.
Tamanho do lote e área construída: 1.790,80 m² / 938,71 m².
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
RIBEIRO, Rafael Novaes de Athayde. Lauro da Costa Lima: Uma biografia profissional. Iniciação Científica – Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo, 2021.
RICARDO, R. F. A verticalização na cidade de São Vicente-SP nos anos de 1950 e 1960: O Edifício Marahú, 1959, de Lauro da Costa Lima. Preservar e valorizar o patrimônio arquitetônico moderno: o papel das instituições públicas e agentes privados. 9° Seminário Docomomo SP, Santos, 2024.
SOBRE A OBRA
Sito em lote de esquina na Avenida Manoel da Nóbrega, 30, com a antiga Av. Eng. Miguel Presgreave, em frente à Praia do Itararé, sendo a incorporadora a Sociedade Paulista de Investimentos Ltda., em terreno de propriedade representada pelo Sr. José P. Fernandes, projetado por Costa Lima em 1954 e construído de 1955 a 1959 pela firma construtora C.E.S.A. Comercial Engenharia S.A.
Em terreno de 1.790,80 m², o edifício ocupa 52% da área total (938,71 m²) e uma área total construída de 12.553,34 m² (CA 7,00), o projeto explora as condicionantes do Código de Obras de 1956. O edifício conta com um subsolo - com abrigo para barcos e automóveis, térreo e 58 unidades habitacionais organizadas em 15 pavimentos, sendo os dois primeiros pavimentos com três apartamentos por andar e 14 pavimentos tipo - com quatro apartamentos cada, além da cobertura com o terraço e casa de máquinas.
O Edifício Marahú, 1959, apresenta algumas referências aos Edifícios Racy (Aron Kogan, 1955) e Copan (Oscar Niemeyer, 1952-66), como a plasticidade e organicidade, recursos muito pouco explorados nos edifícios projetados por Costa Lima ao longo de sua carreira. A solução de implantação, em volumetria de “S” aberto, permite aos apartamentos visuais para as praias do Itararé e São Vicente, além de uma boa condução das forças do vento em virtude da dimensão longitudinal do edifício de 57,49 metros.
Ao desenhar uma generosa marquise como elemento de mediação público-privado e proteção às intempéries, Costa Lima recorre a delgados pilares em formato “V” para a sustentação. Mais tarde, ensaia esta mesma solução estrutural, na segunda versão apresentada à Prefeitura de São Paulo para aprovação do Edifício Ibirá - 1960, localizado na Rua Maranhão, 107, porém acaba não sendo executado desta maneira.
Os usos e circulações verticais do edifício Marahú estão organizados e distribuídos a partir do hall de entrada, ao centro da planta do térreo. Os sociais, como o salão, à esquerda e à direita, a casa do zelador e os acessos aos abrigos de automóveis. Com isso, a moradia realiza a mediação entre os programas sociais e serviços. Além de permitir um acesso restrito e reservado, ao elevar a unidade em 0.60m em relação ao nível do térreo, de modo a apresentar-se como um volume que parece flutuar, sob a projeção do edifício. As diversas aberturas, essenciais a ventilação e iluminação dos cômodos, são organizadas por elementos vazados, proporcionando unidade ao elemento. De maneira similar projetados anos mais tarde, Costa Lima recorre à mesma organização programática e de fluxos para o térreo dos edifícios Humaitá - 1965 em São Vicente, e Lago Azul - 1966, em São Paulo. Neste último, com exceção do salão de festas.
SOBRE O AUTOR
Nascido em São Paulo e formado pela Escola de Engenharia e Arquitetura Mackenzie em 1941, ele projetou inúmeros edifícios na capital e na cidade de São Vicente, litoral de São Paulo. Durante sua vida participou e colaborou para o escritório de Eduardo Kneese de Mello (1937 - 1941), estabeleceu sociedade com Alfredo Ernesto Becker (1941 - 1945), abriu seu próprio escritório “Lauro da Costa Lima Engenheiros Associados”. Em 1947, participa da mobilização em prol da criação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, no evento ocorrido em novembro de 1947, no Hotel Excelsior, juntamente a grandes nomes da arquitetura paulista como Rino Levi, João Batista Vilanova Artigas, Gregori Warchavchik, Hélio Duarte, Eduardo Kneese de Mello, Ícaro de Castro Mello, Oswaldo Corrêa Gonçalves, Aldo Ferreira, entre outros.
Na cidade de São Vicente, em específico, Lima foi responsável pela concepção e projeto de 9 edifícios: Icaraí - 1946, Inajá - 1946, Mainumbi - 1955, Itapoan - 1956, Marahú - 1959, Tendai - 1960, Itaguá e Elacar - 1963 e Humaitá - 1965.
Já na capital, destacam-se exemplares como: o edifício para escritórios Cia Gessy Industrial, 1946; The First National City Bank, 1951/52; Edifício Tabapuan, 1953; Edifício Itapé, 1956; Edifício Ibirá, 1960; Edifício Itaí, 1964; Edifício Vila Normanda Bl. A e B, 1965 e 1968; Edifício Cambuí, 1966; Edifício Lago Azul, 1966.
A pesquisa identifica em sua obra uma integração da arquitetura com a arte em um recorrente diálogo com artistas como, por exemplo, Antonio Maluf; Waldemar Cordeiro; Luiz Sacilotto e Irênio Maia.
IMPORTÂNCIA PARA O MOVIMENTO MODERNO
É possível compreender o Edifício Marahú como parte em relação ao conjunto formado com os edifícios Mainumbi - 1955, Tendai - 1960 e Humaitá - 1965, exemplares do tratamento espacial e funcional nas estratégias de mediação entre arquitetura e cidade.
O crescimento vertical da cidade de São Vicente foi predominantemente residencial durante as décadas de 1950 e 1960, e por um longo período vista como cidade de veraneio. Em 1961 ocorre a VI Bienal de São Paulo, período singular para a cultura, sobretudo, as artes e a arquitetura. Nesta edição, Costa Lima participa com o Edifício Marahú, intitulado como Edifício de Apartamentos para Fim de Semana, fato que reforça o viés e característica da arquitetura de segunda moradia.
Nesse sentido, é possível entender o que essa arquitetura representou na produção de Costa Lima, em contraposição à da capital paulista. O Edifício Marahú, representa a materialização da demanda litorânea ao fornecer visuais para a enseada, amplos ambientes internos e garagens para autos e barcos, além de evidenciar aquilo que aparentava ser para Costa Lima, em diálogo com Rino Levi, a solução para a construção da cidade moderna: urbanidade cosmopolita, contribuindo para a construção de um espaço público cuidadosamente oferecido à escala do pedestre, animados por marquises e outras gentilezas urbanas.
Redação da ficha: Ricardson Ricardo.