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EDIFÍCIO SOBRE AS ONDAS

Guarujá

Autores: Oswaldo Correa Gonçalves e Jayme Fonseca Rodrigues

Imagens da obra

Imagens do projeto

FICHA TÉCNICA


Nome da obra: Edifício Sobre as Ondas

Data da construção: 1951

Localização: Av. Gal Rondon, 30 - Pitangueiras, Guarujá

Autores arquitetos: Oswaldo Correa Gonçalves e Jayme Fonseca Rodrigues


Imagens feitas pelo autor e do arquivo pessoal do arquiteto Oswaldo Corrêa Gonçalves, cedidas ao autor.


Entrevistas feitas com o arquiteto Oswaldo Corrêa Gonçalves em 14 e 21/05/2001 e 09/09/2002.


Autor da pesquisa e texto sobre a obra: Maurício Azenha Dias

Digitalização de desenhos: Kauê Marques Romão


INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS


ACRÓPOLE, março de 1946.


SOBRE A OBRA


Nos anos 40, o Guarujá, com suas areias brancas e seu mar de águas límpidas continua a ser o endereço de férias preferido da elite paulistana. Nessa época, o Dr. Antonio Roberto Alves Braga, médico e advogado procura o amigo arquiteto Oswaldo Corrêa Gonçalves para que o auxiliasse na escolha de um terreno no Guarujá, onde pretendia construir um edifício de apartamentos que atendesse a demanda que começava a se manifestar pela aquisição de uma residência de férias à beira-mar. Oswaldo, que possuía escritório na Rua Marconi, no mesmo prédio do arquiteto Jayme Campello Fonseca Rodrigues. Oswaldo então convida seu colega para participar do projeto que seria aprovado pela Prefeitura de Guarujá em 26 de outubro de 1945 e que por suas características se configuraria como um dos primeiros exemplares de arquitetura moderna a ser construído no litoral de São Paulo.

No Edifício Sobre as Ondas estão contidos todos os conceitos do modernismo, com o projeto incorporando os elementos que tornaram a arquitetura brasileira referência internacional. Juntamente com o racionalismo preconizado por Le Corbusier – piloti, planta livre, terraço jardim - vemos também a incorporação do repertório brasileiro em elementos que a partir de sua utilização por Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, passaram a compor o ideário dos arquitetos modernos brasileiros.

No projeto do Sobre as Ondas, aparece de forma marcante um dos elementos mais fortes de nossa arquitetura moderna – a curva, que estabelece o contraponto com o racionalismo da fachada que modula os seus elementos construtivos. Em curva também é a própria configuração do edifício, que parece abraçar o mar, e ao mesmo tempo dominar a paisagem. Esta subversão da paisagem à técnica se faz muito presente no discurso modernista.

Foi proposta a adoção de três tipologias diferentes de apartamentos, formando um conjunto com 44 unidades de um dormitório, 22 com dois dormitórios e 22 com três dormitórios, além de restaurante, playground, salão de jogos distribuídos em térreo, mezanino, 11 pavimentos tipo e cobertura com 2 apartamentos e  salão de jogos para uso coletivo.

A planta do pavimento tipo segue uma rígida modulação, que é quebrada apenas nas áreas úmidas que envolvem as caixas de circulação vertical. A organização em três blocos permite um uso muito otimizado dos espaços, resultando em áreas de circulação horizontal mínimas. O elevador de serviço tem suas paradas feitas em meios níveis, racionalizando a sua utilização.Também em planta podemos observar a aplicação dos conceitos modernistas: a modulação e a utilização de cozinhas-corredor são bem características.

Apesar do rigor da planta funcionalista, com os apartamentos de um, dois e três dormitórios formando um corpo único, temos a presença de uma grande laje curva que compõe o mezanino e serve como terraço coberto no térreo de onde se descortina o mar. “Essa grande laje é uma influência clara de Oscar Niemeyer e da escola carioca” conforme declarações do próprio Oswaldo.

No mezanino localiza-se a parte superior do restaurante, que faz o contraponto com a rigidez do pavimento tipo. Ali foi prevista uma grande “ameba”, que integrava os dois níveis do restaurante. Outro elemento interessante do projeto – infelizmente retirado por alegados motivos de segurança – é o conjunto de rampa e escada que fazia a ligação entre o térreo e o mezanino pelo exterior do edifício. Solto do corpo do prédio, este permitia o acesso entre os dois pavimentos externamente, providência muito apropriada para o uso de veraneio que se daria ao conjunto.

O térreo é composto por jardins, que juntamente com um painel de azulejos, deveriam ser projetados por Roberto Burle Marx, porém essa intenção dos arquitetos não prosperou. Porém no restaurante foi executado um painel da artista plástica Lise Forrel. Essa prática se repetiria em outros projetos de Oswaldo, como a residência Michel Abu Jamra, que exibe um painel de Clóvis Graciano . O pé direito duplo do térreo confere uma sensação maior de contato com o mar, pois esse terraço está literalmente “sobre as ondas”.

Na cobertura, são colocados dois apartamentos, mais um salão comum a todos os condôminos, que durante o processo de construção foi transformado em mais um apartamento. Observa-se aí a incorporação da casa de máquinas ao pavimento, que juntamente com a caixa d’água projetada longitudinalmente, retiram os volumes característicos do alto do prédio, criando na fachada um resultado mais harmonioso.

O cuidado com os detalhes de projeto vão desde o desenho de maçanetas e respiros nos elevadores com motivos marinhos, na escolha do revestimento dos pilotis, até ao grafismo no nome do edifício localizado na sua entrada.  Os materiais usados no revestimento são pastilhas cerâmicas em tons de azul e nos pilares do térreo e muros, pedra.

É importante ressaltar que o Sobre as Ondas não é uma manifestação isolada dos princípios modernistas, mas sim fruto de preocupações projetuais que freqüentavam as pranchetas de uma parcela significativa dos arquitetos paulistas, que antes de meramente seguir os conceitos corbusianos, procuravam respostas para as questões mais prementes do fazer arquitetura no Brasil.

Localizado entre as praias das Astúrias e Pitangueiras, estabelecendo a separação entre elas, o Sobre as Ondas, exposto na Trienal de Milão e premiado no IV Congresso Panamericano de Arquitetura de Lima passou a ser um marco referencial na paisagem, intenção essa alcançada pelos arquitetos, pois foi a partir de sua interferência que foi escolhido o terreno.

Passados mais de 50 anos de sua inauguração, o Sobre as Ondas continua dominando a paisagem – apesar dela ter mudado radicalmente nesses anos. Pioneiro de uma série de projetos feitos pela nata da arquitetura paulista na cidade do Guarujá, para a abastada elite paulistana, o edifício continua a marcar a orla pela sua elegância e implantação privilegiada. A despeito dos críticos, os conceitos de modernidade exercitados neste projeto frutificaram e ainda hoje se apresentam como forma de expressão representativa em nossa arquitetura.




SOBRE OS AUTORES


Transcrição parcial de verbete Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura (2016) sobre o arquiteto e urbanista Oswaldo Correa Gonçalves.


Oswaldo Corrêa Gonçalves (Santos, São Paulo, 1917 - São Paulo, São Paulo, 2005). Arquiteto e urbanista. Forma-se engenheiro-arquiteto em 1941 e engenheiro civil em 1944 na Escola Politécnica de São Paulo (Poli). Em 1942, é contratado pela Prefeitura Municipal de São Paulo para trabalhar no Setor de Aprovação de Plantas, onde permanece até 1953. No mesmo período, abre seu escritório e integra a Comissão Executiva do Convênio Escolar de São Paulo. Associa-se aos arquitetos Paulo Bucollo Ballario e José Wagner Ferreira, em 1960, e a Benno Perelmutter, em 1970, com quem funda o Escritório Pluricurricular de Projetos onde trabalha até os anos 1980. Participa da criação do departamento paulista do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), sendo membro da primeira direção, presidente do departamento (1961-1963) e vice-presidente da direção nacional (1973-1974). Colabora com a organização do 1º e 4º Congresso Brasileiro de Arquitetos (1945-1954). É convidado por Ciccillo Matarazzo a participar da organização da 2ª Bienal Internacional de Artes de São Paulo, assumindo em 1961 a direção da sessão de arquitetura, que se torna independente em 1971, quando é realizada sob a sua coordenação a 1ª Bienal Internacional de Arquitetura. Participa da criação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), assumindo com Ícaro de Castro Mello a disciplina grandes composições (1954-1955). Idealiza a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos (Faus), criada em 1970, sendo diretor da faculdade por várias gestões e responsável pela cadeira de urbanismo. A partir dos anos 1980, dedica-se exclusivamente à docência, presidindo a Associação Brasileira de Escolas de Arquitetura (Abea) de 1976 a 1977. Recebe o Colar de Ouro do IAB em 1973, a Medalha Mário de Andrade do Governo do Estado de São Paulo, em 1976, e o título de cidadão emérito santista em 1997, quando é realizada a primeira exposição retrospectiva de sua obra na Faus. Em 2005, o arquiteto é homenageado na 6ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.

Jayme Campello Fonseca Rodrigues (1905-1946) foi contemporâneo de Oswaldo Bratke, Eduardo Kneese de Mello e Henrique Mindlin no curso de Arquitetura da Escola de Engenharia Mackenzie. Realizou projetou e construiu prédios e casas, residências e repartições públicas; desenvolveu, ainda, propostas de urbanização e de paisagismo e projetos de arquitetura de interiores em sintonia com o que havia de mais refinado nos Estados Unidos e na Europa nos anos 1930-40. Para os ambientes que projetava, desenhava mobiliário, iluminação, pequenos objetos. Seu escritório era um dos maiores (se não o maior) de arquitetura de São Paulo, juntamente com o de Rino Levi. Com seu prestígio, foi fundador e primeiro vice-presidente do IAB/SP. A morte, aos 41 anos, interrompeu uma trajetória em ascensão.

SEGAWA, Hugo. Jayme C. Fonseca Rodrigues - Arquiteto. São Paulo: BEĨ Editora, 2016.


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