CASA DO DR. ARISTÓTELES A. M. GARCIA
Imagens da obra
Imagens do projeto
FICHA TÉCNICA
Nome da obra: Casa do Dr. Aristóteles A. M. Garcia
Data da construção: 1935
Localização: Marília, Avenida Sampaio Vidal, Lote 17 e
Autor: Gregori Warchavchik
Tamanho do lote e área construída: AL: 420m2
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
RAMOS, Alfredo Z. N. Os primórdios da arquitetura modernista em Marília-SP. Dissertaçao de mestrado. Bauru: FAAC-UNESP, 2017.
BRUAND, Yves. Arquitetura contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2008.
INVAMOTO, Denise. Futuro Pretérito: Historiografia e Preservação na obra de Gregori Warchavchik. Dissertação de mestrado. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 2012, p.31.
LIRA, José Tavares Correia de. Warchavchik: Fraturas da vanguarda. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
SOBRE A OBRA
A residência da Avenida Sampaio Vidal de autoria do importante arquiteto Gregori Warchavchik, teve seu projeto aprovado em 1935. Ela foi residência e consultório médico do Dr. Aristóteles A. M. Garcia, um médico baiano que tinha acabado de se mudar para a nova cidade do interior paulista. Dr. Aristóteles, além de médico ginecologista, teve importante influência política, fato que posteriormente, entre os anos de 1938 e 1939, o levou a se tornar prefeito de Marília.
Ela se localizava na principal avenida da cidade, paralela a linha da ferrovia da Cia Paulista de Estradas de Ferro e principal local comercial do município.
Desconhecida entre os seus trabalhos do período de reclusão, a casa mariliense é carregada de elementos vitais do modernismo de Warchavchik, que já haviam aparecido em suas obras anteriores, o que contrasta com o considerado “irrelevante” e até mesmo “inexistente” trabalho dessa época, citado por alguns autores.
Em Marília ao se projetar o consultório médico e a residência do Dr. Aristóteles, Warchavchik setorizou funcionalmente a construção em duas partes: a moradia deveria ficar mais ao fundo (com sua edícula) no térreo e o primeiro pavimento e o consultório à frente, apenas no térreo, porém, ligado à área residencial. Ocorre que essa disposição se deu de forma muito diferente do convencional, na qual o setor de serviços tomava toda a fachada deixando a casa ao fundo. O lote, um pouco mais largo que os de tamanho padrão, permitiu uma implantação com visualização e permeabilidade do conjunto: área do consultório, de moradia e aos fundos a edícula.
Eram duas entradas independentes, a da residência situada na esquerda e a que se dirigia ao consultório, na direita, a partir de uma circulação externa. Essa parte da edificação, voltada ao serviço profissional, tinha seu volume bem incorporado ao restante, sendo elemento de destaque na elevação frontal do projeto. O tratamento do consultório é o mesmo da residência e dessa maneira formava-se um conjunto único, sem que a clínica parecesse um anexo ou apêndice da moradia. O uso misto se manifestava pelos volumes, com independência funcional, mas ambos, ao mesmo tempo, faziam parte de um só organismo. A estética seria resultado dos aspectos práticos.
Plasticamente a edificação principal era composta por dois volumes principais: o do consultório e o da residência com dois pavimentos, somado a dois planos laterais, constituídos pela passagem coberta de automóveis. Ao fundo, como na maioria das obras do arquiteto, havia o volume independente da edícula. A passagem coberta de veículos, que ao mesmo tempo, servia de acesso principal à residência, frequentemente utilizada por Warchavchik em seus projetos, apresentava uma inovação importante, particularmente sobre a da Casa da Rua Itápolis (1930), que era o fato de possuir apoio estrutural livre do limite do terreno. As técnicas construtivas empregadas na residência em Marília, não se diferenciavam muito daquelas utilizadas em suas obras mais conhecidas: alvenaria em tijolos cerâmicos; lajes planas de cerâmica e concreto; caixilhos metálicos de desenho simplificado; janelas de metal com persianas de madeira de enrolar para os quartos, edificação assentada no solo, sem porões; paredes lisas e uniformes pintadas de branco; pés direitos mais baixos que os usuais a época; portas de folha única, sem bandeiras implantadas nos cantos otimizando os espaços, portas metálicas de correr e a solução de platibanda, com o intuito de esconder o telhado de telhas de barro.
A residência parece nunca ter sofrido alteração visível em suas fachadas, conforme nos mostra a foto dos anos 1970.
A moradia do Dr. Aristóteles Garcia, ficou 40 anos edificada na Avenida Sampaio Vidal. Em 1974, dois anos após o falecimento de Warchavchik, a Caixa Econômica Federal adquiriu o imóvel e iniciou o processo de demolição.
SOBRE O AUTOR
Gregori Warchavchik, judeu de origem ucraniana, chega ao Brasil em 1923 para trabalhar na Companhia Construtora de Santos, propriedade de Roberto Cochrane Simonsen, onde aí ficou até o ano de 1927 quando abre escritório próprio, naturaliza-se brasileiro e se casa com Mina Klabin (LIRA, 2011). Nesse ponto, pode-se levantar uma hipótese para sua aproximação com o Dr. Aristóteles. Simonsen, Klabin e Warchavchik, todos de ascendência judaica, tinham muita influência na sociedade paulistana. Dentre essa sociedade elitista paulistana, poderia estar o então médico Aristóteles, recém-chegado à capital paulista — por volta de 1927 a 1930 (informação pessoal), nessa ocasião pode ter conhecido Warchavchik. Inclusive o arquiteto já contava com uma grande clientela na respectiva sociedade médica, entre eles o Dr. Cândido da Silva. Warchavchik realizou o projeto da residência do referido médico em 1929 e também uma reforma na própria Sede da Associação Paulista de Medicina do Estado de São Paulo, no edifício Martinelli, em 1931.
A sua fase inicial como autônomo é a mais conhecida, discutida e também permeada de críticas, sendo que a sua principal contribuição, decorre do seu pioneirismo na introdução da linguagem moderna na obra inaugural de 1927, primeiro projeto autoral em solo brasileiro, a sua residência da Rua Santa Cruz na Vila Mariana, em São Paulo.
A casa da Rua Itápolis, que o consagrou como principal nome da arquitetura nacional, após a exposição da “Casa Modernista”, em 1930, também pode ser considerada outra importante experimentação projetual modernista. O evento foi envolto por ampla repercussão midiática, críticas e artigos impressos, o que resultou em grande salto profissional para o arquiteto, e segundo Lira (2011), “um divisor de águas no processo de inserção do profissional liberal no mercado local da arquitetura [...] capaz de seduzir inclusive a velha burguesia da terra”, isso o possibilitou partir para o comércio carioca ainda no ano de 1930.
No Rio de Janeiro, vários fatores contribuíram para o apogeu da carreira de Warchavchik, como a sua passagem pela Escola Nacional de Belas Artes, a exposição modernista com Frank Lloyd Wright e sua sociedade com Lúcio Costa até o final de 1933, havendo então, uma consolidação da importância do seu papel na introdução e na conceituação da arquitetura moderna no Brasil.
Autores da pesquisa e texto sobre a obra: Alfredo Zaia Nogueira Ramos; Nilson Ghirardello