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BIBLIOTECA MUNICIPAL ROBERTO SANTOS

São Paulo

Autor: Aluísio da Rocha Leão

Imagens da obra

Imagens do projeto

FICHA TÉCNICA


Nome da obra: Biblioteca Municipal Roberto Santos - antiga Biblioteca Ministro Genésio de Almeida ou Biblioteca Municipal do Ipiranga.
Data de projeto/construção/inauguração: 1964/1964-65/1965 (Fonte: DPH, 2018).
Localização/perímetro: Rua Cisplatina nº 505 – Ipiranga, São Paulo-SP.
Autor do projeto: Arquiteto Aluísio da Rocha Leão.
Intervenções posteriores: colocação de grade na frente do lote; adaptações para acessibilidade e para biblioteca temática de cinema.
Tamanho do lote e área construída: 1.637m² e 1.700m² (Fonte: DPH, 2018).
Tombamento: Municipal, Resolução nº 30/CONPRESP/2018. Solicitante do tombamento: Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) – Quadro nº 6 (Lei Municipal nº 13.885/2004).



INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS


ABREU, I. R. N. Convênio Escolar: Utopia Construída. 2007. Dissertação (Mestrado em Projeto de Arquitetura) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2007. 
ACROPOLE. Biblioteca Municipal do Ipiranga. Aluisio da Rocha Leão, arquiteto. Acropole. São Paulo, Ano 28, n. 329, p. 30-31, jun. 1966.
CIDADE DE SÃO PAULO.  CULTURA. Histórico da Biblioteca. Biblioteca Roberto Santos. Disponível em: <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/cultura/bibliotecas/bibliotecas_bairro/bibliotecas_m_z/robertosantos/index.php?p=3888>. Acesso em: 29 abr. 2019.
DPH. Departamento do Patrimônio Histórico da Cidade de São Paulo. Processo Administrativo: 2018-0.010.126-7.
GERENCIAMENTO TÉCNICO DE OBRAS (GTO-SMC-PMSP). Projeto de Arquitetura e Paisagismo Biblioteca Roberto Santos, 2009. In: CIDADE DE SÃO PAULO. CULTURA. Histórico da Biblioteca. Biblioteca Roberto Santos, 2019.
LEÃO, A. R. Entrevista concedida pelo arquiteto Aluísio da Rocha Leão aos arquitetos Mirthes Baffi, Walter Pires e Carla Milano. Acervo do DPH (Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo). Pesquisa sobre o Convênio Escolar, São Paulo, mimeo, 1998.

SOBRE A OBRA


Inaugurada em 1953, a antiga Biblioteca Municipal do Ipiranga (atual Biblioteca Municipal Roberto Santos) funcionava num edifício adaptado para essa atividade. Estrategicamente localizada naquele bairro, devido ao número significativo de moradores e escolas ali existentes, era a segunda maior biblioteca circulante da cidade de São Paulo, quando, no início dos anos 1960, seu espaço ficou pequeno frente à ampliação de seu acervo. Um novo edifício foi então projetado pelo arquiteto Aluísio da Rocha Leão, membro da equipe da Comissão de Construções Escolares da Prefeitura do Município de São Paulo, tendo sido inaugurado em 1965. Rocha Leão, que trabalhou, ao longo da década de 1950, na equipe do Convênio Escolar (firmado entre Governo do Estado e Prefeitura em 1948), desenvolveu o projeto da biblioteca conforme os preceitos da arquitetura moderna, continuando a aplicar esses conceitos, que foram introduzidos na construção de equipamentos educacionais na cidade pelos arquitetos do próprio Convênio. A Biblioteca insere-se discreta e harmoniosamente na paisagem urbana, sem ultrapassar o gabarito do seu entorno. A única parte visível do edifício, desde a rua, é o plano vertical de sua fachada de pedras rústicas e seus jardins no recuo frontal. O edifício desenvolve-se em três níveis principais, adaptando-se à topografia levemente acidentada do terreno, em um volume recortado, com jardins entremeando os recintos internos. A planta da Biblioteca, desenvolvida em torno de áreas funcionais moduladas, organiza-se, a partir do nível da recepção, em pavimentos em meio nível, com área longitudinal de circulação e serviços. O partido arquitetônico adotado possibilita um amplo e iluminado espaço interno, que surpreende o visitante, em contraposição à opacidade do muro de pedra da fachada principal. No nível térreo, a recepção encontra-se rodeada de jardins e de um dos espaços destinados a acervo, destacando-se a permeabilidade visual dos ambientes internos, por serem abertos ou com fechamento de vidro. A volumetria em “E” da ala com dois pavimentos, no fundo do terreno, com coberturas em duas águas em cada um de seus três módulos, estabelece um delicado jogo de contrastes entre cheios e vazios, interno e externo, luz e sombra. Os pátios ajardinados que invadem o volume construído favorecem não apenas a iluminação, mas também a ventilação natural. Uma ampla e aberta escada leva ao corredor de circulação do pavimento inferior, que dá acesso à administração, duas salas de leitura e acervo, bem como ao auditório com capacidade atual para 70 pessoas. No mezanino, estão dispostas mais três salas de acervo e leitura. Tanto a administração, quanto às instalações sanitárias encontram-se mais resguardadas, nas extremidades do edifício. No projeto original, o pavimento inferior destinava-se à seção de empréstimos, sala de jornais e revistas, e auditório; o mezanino abrigava as salas de leitura e a administração. O programa foi distribuído com base no livre acesso aos livros, o que era então defendido pela moderna biblioteconomia. Atualmente, desde 2008, quando foi criada uma rede de bibliotecas municipais temáticas na Secretaria Municipal de Cultura, este equipamento foi dedicado ao cinema: o pavimento inferior destina-se aos acervos de cinema, junto à seção para crianças e ao auditório, enquanto os acervos gerais, com mesas para leitura, são situados no mezanino.
A obra privilegia a simplicidade e praticidade, sem perder a complexidade da arquitetura, traduzida nas soluções técnicas e plásticas, que compreendem desde a utilização de estrutura que permite grandes vãos; amplas fileiras de panos de vidro com esquadrias metálicas; o contraste entre a rusticidade e a opacidade da parede de pedras frente à transparência dos vidros; a flexibilidade dos ambientes internos; utilização de telhas de cimento-amianto, inclusive projetando-se sobre a fachada principal de pedra, à maneira de uma delgada marquise.


Alterações e/ou reformas:
Em 2008, houve uma reforma em que foram substituídas as redes elétricas, parte da rede hidráulica dos sanitários, sem modificações nos acabamentos, e foram instalados equipamentos voltados à acessibilidade do prédio. Ao comparar as plantas originais e atuais da biblioteca, é possível notar uma mudança significativa na escada que leva ao segundo andar, apresentando um recorte para a plataforma elevatória. Há informação, não comprovada, de que, em 2017, o espaço do auditório foi reformado, passando de 154 lugares para 70 (CIDADE DE SÃO PAULO, 2019), aumentando o conforto e acessibilidade para cadeirantes. Destaque-se, ainda, a presença de uma linha do tempo do cinema brasileiro, impressa no guarda-corpo do mezanino, que remete a cenas dos filmes de Roberto Santos, cineasta paulista homenageado neste equipamento.



IMPORTÂNCIA DA OBRA PARA O MOVIMENTO MODERNO


A obra possui elementos característicos da produção do Convênio Escolar nos anos 1950, do qual o arquiteto fez parte. Apresenta soluções técnicas e elementos plásticos utilizados pelos arquitetos do Convênio: espaços amplos, horizontais, no meio de jardins; partido arquitetônico definido em função do terreno, bem como das condições de ventilação e luminosidade. É um projeto que privilegia a simplicidade e praticidade, em consonância como os parâmetros do Convênio Escolar, sem, contudo, abrir mão da qualidade espacial e plástica do edifício, utilizando, por exemplo, materiais que conferem certa sofisticação ao conjunto, como o uso de pedras rústicas na fachada, e seu contraste com a transparência do vidro. Obra de arquiteto pouco conhecido, apesar de sua significativa produção no âmbito do Convênio Escolar. Por outro lado, trata-se de obra pouco estudada, apesar de sua indiscutível qualidade técnica, espacial e plástica



SOBRE OS AUTORES


Aluísio da Rocha Leão nasceu em São Paulo, em 1926, e formou-se arquiteto pela Universidade Mackenzie em 1953. Iniciou sua carreira, por intermédio do arquiteto Roberto Tibau (1924-2003), trabalhando como desenhista na equipe do Convênio Escolar da Prefeitura do Município de São Paulo (PMSP), um ano antes de se formar e com a convicção de querer se dedicar à arquitetura escolar pública. Com o término do Convênio Escolar (oficialmente em 1959, mas com produção mais intensa até 1954), continuou projetando edificações relacionadas à educação, como escolas e bibliotecas, no âmbito da Comissão Municipal de Construções Escolares. Rocha Leão trabalhou, nesses programas, com os arquitetos Roberto Tibau, Antônio Carlos Pitombo, José Augusto Barros de Arruda, Rubens Azevedo, Eduardo Corona, entre outros, em substituição ao arquiteto Hélio Duarte, que deixou a Prefeitura em 1952. Nesses dez anos, aproximadamente, no serviço público municipal, participou do projeto de quarenta escolas, cinco bibliotecas, além de postos de saúde (dispensários), sendo, provavelmente, depois de Tibau, o arquiteto que mais projetou escolas municipais naqueles anos, segundo o próprio Rocha Leão (1998). Entre essas, destaca-se a Escola Municipal de Educação Bilíngue para Surdos (EMEBS) Helen Keller (Instituto Municipal de Crianças Surdas), projetada em conjunto com Tibau, em 1959. Ao falar de sua atividade projetual na PMSP, Rocha Leão (1998) relembrou que havia liberdade para projetar esses edifícios, desde que se respeitassem os preceitos da arquitetura moderna, e as condicionantes técnicas e de adaptação ao terreno. Quanto às suas influências, Rocha Leão (1998) remetia-se ao arquiteto Roberto Tibau, com quem trabalhou. Participou de três Salões de Arte Moderna com sua obra arquitetônica, e, de forma independente, colaborou em projeto inovador para a Escola do Jockey Club no início dos anos 1950, que não foi executado. Deixou o posto de arquiteto na Prefeitura de São Paulo por volta de 1964, para se dedicar às artes plásticas, principalmente à pintura.

Autores da ficha: Andréa de Oliveira Tourinho, Aldrya Custódio, Juliana Caravieri e Naissa Santoro.

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