EDIFÍCIO LAGOINHA
Fachada principal (2019). Fonte: acervo Grupo de Trabalho/Docomomo-USJT.
Fachada da entrada da Rua Arthur de Azevedo (2019). Fonte: acervo Grupo de Trabalho/Docomomo-USJT.
Detalhe do acesso (2019), onde ocorreram as alterações. Fonte: acervo Grupo de Trabalho/Docomomo-USJT.
Fachada principal (2019). Fonte: acervo Grupo de Trabalho/Docomomo-USJT.
Imagens da obra
Planta pavimento térreo. Fonte: acervo Grupo de Trabalho/Docomomo-USJT
Fachada. Fonte: acervo Grupo de Trabalho/Docomomo-USJT
Planta do pavimento tipo Fonte: acervo Grupo de Trabalho/Docomomo-USJT. (Redesenho com base em Projeto de Anexo ao Edifício Lagoinha, proposto por Alvaro Puntoni, 2002).
Planta pavimento térreo. Fonte: acervo Grupo de Trabalho/Docomomo-USJT
Imagens do projeto
FICHA TÉCNICA
Nome da obra: Edifício Lagoinha
Data do projeto/construção/inauguração: 1959 / 1960.
Localização/perímetro: R. Arthur de Azevedo - Cerqueira César, São Paulo-SP
Autor do projeto: Arq. Carlos Millan.
Intervenções posteriores: instalação de uma pele de vidro na entrada de acesso ao edifício, substituição por porta de grade de ferro na entrada do hall, substituição de piso na praça de acesso.
Tamanho do lote e área construída: 355 m² / 615 m².
Tombamento: Tombado pelo CONPRESP / processo de número 0070807/2017 / solicitante do tombamento: DPH – Departamento de Patrimônio Histórico (quadro 06).
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
CAMARGO, M. J. et al. Histórias e memórias de um arquiteto. A breve trajetória de Carlos Barjas Millan. In: SEMINÁRIO DOCOMOMO BRASIL, 6., 2005, Niterói. Anais... Niterói: UFF, 2005, online. Disponível em: <http://docomomo.org.br/wp-content/uploads/2016/01/Monica-Junqueira-de-Camargo.pdf>. Acesso em: 02 mai. 2019.
CONPRESP. Processo n° 28225/90, São Paulo, 2002.
CONPRESP. Resolução de Tombamento n° 29, São Paulo, 2018.
CONPRESP. Resolução de tombamento n° 14, São Paulo, 2014.
CONPRESP. Resolução de Tombamento n° 187, São Paulo, 2002.
FAGGIN, C. A. M. Carlos Millan: itinerário profissional de um arquiteto paulista. 1992. Tese (Doutorado em Arquitetura) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo. 1992.
FAGGIN, C. A. M. Carlos Millan: o traço que permanece. AU (Arquitetura e Urbanismo), v. 10, n. 54, São Paulo, p. 97-104, jun./jul. 1994.
MATERA, S. Carlos Millan: um estudo sobre a produção em arquitetura. 2005. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2005.
SOBRE A OBRA
Único edifício vertical projetado por Carlos Millan que foi construído - uma encomenda do construtor e investidor Mário Masetti, o prédio tem oito apartamentos de dois dormitórios. Resolvido em dois blocos de quatro pavimentos unidos pelo volume de escadas, o bloco frontal abriga apartamentos de 83m2 e o bloco dos fundos, em desnível de meio pé direito (1,47m), apartamentos de 89m2. A variação de nível entre as lajes dos dois blocos permite que, a cada lance de escadas, os patamares funcionem como vestíbulos de entrada exclusivos de cada um dos apartamentos. Implantado em um terreno em “L”, o prédio encosta nos limites sudeste e sudoeste do lote, abrindo-se para as orientações nordeste e noroeste.
O bloco frontal está suspenso sobre pilotis e abre parte do terreno ao passeio público. O andar térreo tem a portaria recuada no meio do lote, próxima à escada, formando uma praça de acesso elevada 90 centímetros em relação à calçada. Com a projeção deste bloco sobre a calçada marcando a entrada da pequena praça de acesso ao prédio, Millan desenha um espaço coletivo contínuo ao público e propõe uma alternativa ao espaço urbano convencional que, em uma cidade que crescia rapidamente, era concebido como sobra das demarcações das áreas privadas.
A estrutura é de concreto armado com pilares incorporados nas paredes, vigas nos dois sentidos e lajes com enchimento de blocos cerâmicos, a laje de cobertura fica sob um telhado de fibrocimento. Os materiais empregados - pisos em tacos de madeira nos apartamentos (salas e dormitórios), cerâmica nas áreas molhadas, granilite nos vestíbulos e escadas, pilares de concreto aparente no térreo e Blokret no piso da praça de acesso – junto ao detalhamento do projeto indicam uma precisão de desenho referenciada na técnica construtiva e no conforto do edifício. O projeto das esquadrias das áreas de estar com orientação nordeste específica, ao dividir a altura piso-teto em três terços, diferentes tipos de aberturas e proteção solar possibilitando boa ventilação nos dias quentes ou aquecimento do ambiente nos dias frios. Arquiteto que procurava dominar todo o processo construtivo, Millan desenvolvia um repertório de soluções e detalhes que empregava como um vocabulário de composição da linguagem de projeto. Não era apenas uma incorporação de elementos técnicos e plásticos, mas o amadurecimento de um método de projeto como consequência de transformações pessoais e profissionais.
O térreo foi modificado em 2000 por um projeto de reforma de autoria de Alvaro Puntoni, que adiciona uma nova portaria próxima ao passeio público e o fechamento em vidro da pequena praça de acesso do projeto original.
IMPORTÂNCIA DA OBRA PARA O MOVIMENTO MODERNO
O Edifício Lagoinha possui elementos que ainda não haviam sido propostos por Millan em projetos anteriores, o que aparenta ser o resultado do início de e um direcionamento de suas obras ao racionalismo corbusiano, como térreo sobre pilotis, uso de cobogó, fachadas horizontais, soluções de caixilho e a composição das aberturas do volume de escadas com intercalação de retângulos e quadrados verticais e horizontais.
No conjunto da produção de MIllan, referência no sentido de expor um método de projeto ou o didatismo de como aplicar um repertório próprio e buscar uma expressão arquitetônica particular, este edifício está situado quando a preocupação em dominar todo o processo construtivo migra para a definição de uma linguagem formal
SOBRE OS AUTORES
Carlos Barjas Millan, nasceu em São Paulo em 23 de março de 1927, filho de Hillario Millan e Amadora Barjas Millan, irmão caçula de Roberto, médico, e Fernando, advogado de formação e proprietário de uma galeria de arte. Cursou a Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie, foi contemporâneo de Carlos Lemos, Jorge Wilheim, Júlio Neves, Luiz Roberto de Carvalho Franco, Paulo Mendes da Rocha, Roberto Aflalo, Salvador Candia e Sidney Fonseca. Estagiou nos escritórios de Abelardo de Souza, Oswaldo Bratke e Rino Levi, o cuidado excessivo com detalhamento do projeto arquitetônico pode ser creditado à influência de Bratke e Levi.
Em 1950, ainda estudante, abriu seu escritório; em 1952, em sociedade com os arquitetos Miguel Forte, Jacob Ruchti, Plínio Croce, Roberto Aflalo e Chen Y Hwa, montou a loja Branco & Preto, empreendimento pioneiro na produção de móveis modernos. Carlos Millan atuou nas áreas de arquitetura, desenho urbano, desenho de mobiliário e como docente da FAUUPM e da FAUUSP.
Faleceu em 1964, vítima de um acidente de carro. Em seu curto período de atuação profissional, deixou um legado de ideias expressas, tanto nas suas obras como em sua atividade acadêmica, referência no conjunto da produção da arquitetura paulista
Autores da ficha: Sergio Matera, Giuliana Silvestri, José Luiz Cipullo e Luiza Barboza