EDIFÍCIOS GUAPIRA E HICATU, CONJUNTO RESIDENCIAL JARDIM ANA ROSA
Vista Fachada, Rua Dr. José de Queiroz Aranha (2019). Fonte: acervo dos autores.
Detalhe dos blocos (2019). Fonte: acervo dos autores.
Vista Fachada, Rua Dr. José de Queiroz Aranha (2019). Fonte: acervo dos autores.
Imagens da obra
Implantação original dos seis blocos (1952), sendo que somente os dois primeiros, do lado oeste, Guapira e Hicatu. foram construídos. Fonte: Regino (2006, p. 187)
Projeto original do bloco A – Guapira. Fonte: Regino (2006, p. 188
Implantação original dos seis blocos (1952), sendo que somente os dois primeiros, do lado oeste, Guapira e Hicatu. foram construídos. Fonte: Regino (2006, p. 187)
Imagens do projeto
FICHA TÉCNICA
Nome da obra: Edifícios Guapira e Hicatu - Conjunto Residencial Jardim Ana Rosa.
Data da construção: 1953.
Localização: Rua Doutor José de Queiroz Aranha nºs 155, 165, 185, 195 e Rua Alceu Wamosy, nºs 137 e 167 – Vila Mariana, São Paulo-SP.
Autor do projeto: Arq. Eduardo Kneese de Mello.
Área construída: 1426.7 m².
Tombamento: Resolução nº 37, CONPRESP, 2013 – nº 2004-0.297.171-6 e 2013-0.256.719-1.
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
BARBARA, F. O Conjunto Ana Rosa e o Edifício Copan. Contexto e análise de dois projetos realizados em São Paulo na década de 50. 2004. (Mestrado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2004.
BEDOLINI, A. C. B. Banco Hipotecário Lar Brasileiro, S. A.: análise das realizações no Estado de São Paulo 1941-1965. 2014. 2014. Dissertação (Mestrado em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2014.
CONPRESP. Resolução Nº 37, 2013. Disponível em: <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/upload/Re3713TombamentodoConjuntoJardimAnaRosapdf_1422981448.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2019.
MELLO, Eduardo Kneese de. Conjunto residencial. Acropole. São Paulo, Ano 16, n. 182, p. 74-75, jun. 1953.
REGINO, A. N. Eduardo Kneese de Mello, Arquiteto: Análise de sua Contribuição à Habilitação Coletiva em São Paulo. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo. 2006.
REGINO, A.; PERRONE, R. Eduardo Augusto Kneese de Mello: sua contribuição para habitação coletiva em São Paulo. Risco (Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo - online), n. 9, p. 56-97, 1 jan. 2009.
REGINO, A. N.; SANTOS, A. P.; et. al. Arquitetura atribuição do arquiteto: Homenagem ao Centenário do Arquiteto Eduardo Augusto Kneese de Mello. São Paulo: Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, 2005.
SAMPAIO, M. R. A. (org.). A promoção privada de habitação econômica e a arquitetura moderna, 1930 – 1964. São Carlos: RiMa Editora, 2002.
SILVA, E. P. Eduardo Kneese de Mello e o Edifício Japurá. 2003. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos. 2003.
THOMAZ, D. Eduardo Kneese de Mello – documento. AU (Arquitetura e Urbanismo). São Paulo, n. 45, p. 80-88, dez. 1992 / jan. 1993.
ROSALES, M. A. F. Habitação coletiva em São Paulo 1928-1972. 2002. Tese (Doutorado em Arquitetura e do Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2002.
SOBRE A OBRA
O primeiro projeto desenvolvido por Eduardo Kneese de Mello, em 1952, ocupava uma quadra inteira do Conjunto Residencial Jardim Ana Rosa, sendo trabalhada como uma unidade, prevendo a construção de 198 unidades habitacionais distribuídas em seis edifícios. No entanto, em 1954, foi realizada uma alteração e o número de unidades habitacionais foi reduzido a 42 devido à implantação do projeto de Salvador Candia.
O projeto inicial partiu da compreensão das características do terreno em que seriam implantados os seis blocos. Em formato triangular, a quadra está delimitada pelas ruas Alceu Wamosi, Barão Anhuma e Dr. José de Queiroz Aranha. O terreno apresenta um desnível de cerca de dez metros entre as ruas Alceu Wamosi e Dr. José de Queiroz Aranha. Ao analisar a implantação é possível notar que a topografia e orientação solar foram determinantes na escolha do partido.
O arquiteto optou por utilizar apartamentos duplex, visando conciliar economia na construção, racionalização e minimização dos espaços de uso comum. Essa escolha reduziu a metragem ocupada pela circulação horizontal, pois os seis pavimentos necessitaram, apenas, de três níveis de acesso. A solução adotada aproveitou o desnível existente; portanto, da via de cota mais alta, a rua Dr. José de Queiroz Aranha, poderiam ser acessados, os dois níveis superiores de apartamentos, descendo ou subindo meio nível. O acesso aos apartamentos do nível inferior é feito diretamente pela rua Alceu Wamosi. Sem necessitar de escada ou elevador; os meios níveis são vencidos por rampas que cruzam, suspensas, o jardim do nível térreo. Apesar do projeto original propor seis edifícios, apenas os edifícios Guapira e Hicatu foram construídos. Encontram-se implantados, diagonalmente, em duas lâminas paralelas à linha norte / sul, visando boa insolação em todos os cômodos. Entre os edifícios, o arquiteto projetou um amplo recuo livre, na cota do terreno, com um grande talude para realizar a concordância com o nível da rua superior. O pavimento térreo foi concebido como um amplo jardim, com pouquíssima área pavimentada. Seu acesso realiza-se por escadas circulares que ligam o térreo às rampas de acesso de cada um dos pavimentos.
Nota-se, entretanto, que os fatores de economia apontados acima, referentes à circulação horizontal, em função da implantação das lâminas (quase perpendiculares às ruas de acesso), fizeram com que houvesse um único ponto de acesso. Tal solução gerou um longo corredor que precisava ser integralmente percorrido pelo morador do último apartamento (BARBARA, 2004).
Cada pavimento é composto por catorze unidades habitacionais que se distribuem ao longo do corredor central. Internamente, a organização espacial dos apartamentos duplex se dá da seguinte maneira: sala, cozinha, lavanderia, quarto e sanitário de serviço, no pavimento de acesso; um banheiro, dois dormitórios e, ainda, uma pequena varanda no pavimento superior. Os dois pavimentos, entretanto, estão voltados para a mesma fachada, ou seja, é uma planta duplex que não utiliza uma configuração muito empregada por arquitetos ligados ao Movimento Moderno, em que o pavimento contrário ao de acesso, não tendo corredor de circulação, estende-se para as duas fachadas, possibilitando ventilação cruzada e insolação no apartamento em diferentes períodos do dia.
As fachadas laterais dos edifícios são marcadas pela presença de elementos vazados, utilizados como fechamento das áreas de lavanderia, banheiro e quarto de serviços. Nota-se, também, o uso de caixilhos plenos na sala e da janela contrapesada nos dormitórios, distinguindo os ambientes. As fachadas principal e posterior são caracterizadas por um telhado em forma de asa de borboleta. Atualmente as suas fachadas estão bem degradadas, necessitando de manutenção, porém houve pouca descaracterização.
IMPORTÂNCIA DA OBRA PARA O MOVIMENTO MODERNO
De acordo com a Resolução de Tombamento 37/13 do CONPRESP, os edifícios que compõem o Conjunto Residencial Jardim Ana Rosa possuem grande “[...] importância histórica e arquitetônica para o bairro da Vila Mariana e para a cidade de São Paulo, [pois são exemplares] representativos de um importante momento da Arquitetura Moderna na cidade”. Ainda de acordo com o mesmo documento, representam “[...] um momento de inflexão na economia do país e os seus reflexos nos modos de morar e na aquisição de moradias pela classe média, que alteraram a fisionomia da cidade [...]; singularidade e qualidade ambiental gerada por esse conjunto de edificações e suas áreas verdes, que distinguem esse trecho do bairro e lhe conferem identidade com relação aos moradores da área e da cidade” (CONPRESP, 2013, n.p.).
SOBRE OS AUTORES
Nascido em São Paulo no dia 4 de abril de 1906, Eduardo Augusto Kneese de Mello se formou engenheiro-arquiteto em 1931 na Escola de Engenharia do Mackenzie College. Ainda estudante participou de um escritório de topografia com os colegas Oswaldo Bratke, Oscar Americano e Clovis Silveira. Após a conclusão do curso, abriu o próprio escritório de arquitetura e construção, no qual projetou, quase que exclusivamente, residências unifamiliares ecléticas até meados da década de 1940. Após sua participação no V Congresso Pan-americano de Arquitetura (Montevidéu, 1940) passou a se dedicar aos projetos de edifícios comerciais, residenciais, educacionais e de saúde, além de conjuntos habitacionais públicos e privados. Esta nova etapa de sua vida profissional teve um caráter mais humano e social do que a primeira, deixando de representar os desejos de mercado das camadas altas e médias urbanas paulistanas, para atender à coletividade. Portanto, para Kneese, tornar-se moderno foi questionar-se qual seria a função social do arquiteto e o real significado da arquitetura, segundo o ideário do Movimento Moderno (REGINO, 2006). Foi um dos responsáveis pela criação do Instituto de Arquitetos do Brasil – departamento de São Paulo (IAB/SP), sendo eleito seu primeiro presidente em 1943. Teve uma proeminente carreira como docente, lecionando em diversas faculdades, públicas e particulares. Participou de projetos significativos como: Parque do Ibirapuera (junto com a equipe liderada por Oscar Niemeyer), Brasília, Conjunto Residencial para Estudantes da Universidade de São Paulo (CRUSP), INPS Várzea do Carmo e Maria Zélia, entre tantos outros.
Autores da ficha: Aline Nassaralla Regino, Pablo Amaral Chaim, Rafael Baptista de Oliveira, Yugo Kido Mizoguchi.
Data da ficha: Novembro de 2019