RESIDÊNCIA OLIVO GOMES
Residência Olivo Gomes. Fonte: Fotografia de Tatiani Amadeu de Freitas, 2022.
Vista do acesso ao hall, com franca relação entre a arquitetura, os murais em azulejos e o paisagismo. Fonte: Fotografia de Tatiani Amadeu de Freitas, 2022.
Vista do terraço voltada para a área interna e social da residência, destaca-se a presença de pilotis, forro e piso amadeirados. Fonte: Fotografia de Tatiani Amadeu de Freitas, 2022.
Residência Olivo Gomes. Fonte: Fotografia de Tatiani Amadeu de Freitas, 2022.
Imagens da obra
Planta da residência Olivo Gomes. Fonte: Anelli; Guerra; Kon, 2001.
Cortes Longitudinal e Transversal da Residência Olivo Gomes. Fonte: Anelli; Guerra; Kon, 2001.
Perímetro tombado pelo Condephaat, com área tombada de 42.700m², que compreende a Residência Olivo Gomes, os painéis artísticos e o jardim projetado por Burle Marx. Fonte: Condephaat, 2013.
Planta da residência Olivo Gomes. Fonte: Anelli; Guerra; Kon, 2001.
Imagens do projeto
FICHA TÉCNICA
Nome da obra: Residência Olivo Gomes
Data do projeto: 1949 / construção / inauguração: 1951
Localização: Avenida Olivo Gomes, s/ nº, Santana, São José dos Campos-SP
Autor(es)(as) do projeto: Rino Levi e Roberto Cerqueira César
Intervenções posteriores: não há registros
Tamanho do lote e área construída: 42.700 m² (perímetro tombado) / 1.656,73 m² T
ombamento: Legislação Municipal de Patrimônio COMPHAC: Lei nº6493/04, de 05/01/2004; CONDEPHAAT nº processo 37.352/1998 aprovado no D.O. com a Resolução SC 97, de 23/10/2013; Livro do Tombo Histórico: inscrição nº 408, p. 121; IPHAN nº do processo 1368-T-96 de 10/11/2021;
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Nivaldo. Conjunto arquitetônico e paisagístico das antigas tecelagens Parahyba e fazenda Sant’Ana do Rio Abaixo: Parecer de Tombamento. Minha Cidade, São Paulo, Ano 2022, n. 264.02, Vitruvius, Julho 2022. Disponível em: <https://vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/22.264/8559> Acesso em: 13 jul. 2024.
ANELLI, Renato; GUERRA, Abílio; KON, Nelson. Rino Levi - Arquitetura e cidade. Romano Guerra Editora, São Paulo, 2001.
BRUAND, Y. Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1999.
GUERRA,Abilio; RIBEIRO, Alessandro José Castroviejo. Casas brasileiras do Século XX. Arquitextos, São Paulo, Ano 2006, n.074.01, Vitruvius, Julho, 2006. Disponível em:
<https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.074/335> Acesso em: 13 jul. 2024
MINDLIN, Henrique. Arquitetura moderna no Brasil. Rio de Janeiro: Aeroplano, 1999.
SANTOS, Cecília Rodrigues dos. Rino Levi Arquitetos Associados: permanência e continuidade de uma obra. Revista Projeto, Junho 1988, nº111. São Paulo: Arco Editorial, 1988. Disponível em
<https://revistaprojeto.com.br/acervo/rino-levi-arquitetos-associados-permanencia-e-continuidade-de-uma obra/> Acesso em: 12 jul. 2024
XAVIER, Alberto [org.]. Depoimento de uma geração: arquitetura moderna brasileira. São Paulo: Cosac Naify, 2003.
Residência de Olivo Gomes e Parque Ajardinado. São Paulo: Condephaat, 2017. Disponível em: <http://condephaat.sp.gov.br/benstombados/residencia-de-olivio-gomes-e-parque-ajardinado/> Acesso em: 13 jul. 2024.
SOBRE A OBRA
Projetada por Rino Levi e Roberto Cerqueira César, a residência Olivo Gomes, localizada na cidade de São José dos Campos, integrava o conjunto de obras da Tecelagem Parahyba. Encomendada por Olivo Gomes como sua residência, a obra situa-se em meio a um parque, tem seus jardins projetados por Roberto Burle Marx e destaca-se por sua concepção moderna, seu aspecto horizontal, seus 3 painéis de autoria de Burle Marx e Rino Levi, além de sua forma de inserção e diálogo para com seu entorno. Construída entre os anos de 1949 e 1951, a residência tem um programa relativamente simples, embora amplo, composto por três setores: social, íntimo e serviços.
O programa da residência contempla oito dormitórios com um banheiro para cada dois dormitórios, escritório, salão de jogos, piscina, garagem com 6 vagas cobertas e área de serviço com dois dormitórios para empregados. A obra possui dois pavimentos, com evidente delimitação de cada setor. O setor de serviços liga-se ao setor social que, por sua vez, se separa do setor íntimo pelo acesso principal à residência, que culmina em um pano de vidro e evidencia a natureza do entorno da obra. Três folhas venezianas, sendo uma fixa, do tipo guilhotina compõem as esquadrias dos dormitórios, permitindo lhes abertura para a natureza circundante à obra. Uma rampa de dois lances leva ao salão de jogos, no pavimento inferior da residência. Também neste pavimento, há uma área sob pilotis e uma escada helicoidal que dá acesso ao terraço do pavimento superior, que se projeta dos ambientes de estar e jantar e é coberto por um beiral em balanço. A escada é um elemento de destaque na obra por seu aspecto escultural - sustentada por uma viga curva e por cabos de aço em seu perímetro externo.
A estrutura da edificação é de concreto armado, a cobertura é de telhas de fibrocimento sobre laje e o alpendre do pavimento inferior dispõe de pilares cilíndricos de concreto. Em relação aos painéis da residência, o da fachada sul, localizado próximo à entrada principal, possui 3,17 x 17,55 metros e é composto por azulejos brancos de 20 x 20 centímetros pintados à mão; já os outros dois, localizados na fachada norte, possuem 2,24 x 12,87 metros cada e são compostos por pastilhas de vidro de 2 x 2 centímetros.
Além da residência Olivo Gomes, faziam parte do conjunto de obras da Tecelagem Parahyba: Instalações industriais da Tecelagem Parahyba; conjunto de habitações unifamiliares para funcionários da fábrica; consultório médico; ordenha mecânica; silos; galpão de beneficiamento de arroz e café; setor administrativo da fazenda, fábrica de ração e residência; estábulo; galpão para máquinas e equipamentos; usina de força e casa de bombas e compressores a óleo; casa da gerência; casa de hóspedes; depósito de produtos acabados; grupo escolar Tecelagem Parahyba; portaria; usina de leite Parahyba e sua portaria; campo de futebol do Clube Parahyba; jardins da residência Olivo Gomes e viveiro de pássaros; casa da Ilha; ordenha, olaria; departamento de inseminação artificial; residência Carlos Millan; capela Nossa Senhora da Conceição; e vila operária. A residência, em especial, sofreu poucas modificações ao longo dos anos e segue bem preservada. Atualmente, a edificação faz parte do Parque da Cidade, também conhecido como Parque Burle Marx, sob administração da Secretaria do Meio Ambiente.
SOBRE OS AUTORES
Nascido na capital paulista, o arquiteto Rino Levi (São Paulo - SP, 1901- Lençóis - BA, 1965) contribuiu para a consolidação da arquitetura moderna brasileira, sendo responsável por várias das primeiras obras da arquitetura moderna em São Paulo e consagrando-se uma referência no panorama brasileiro com seu legado. Formado em 1925 pela Escola Superior de Arquitetura de Roma, retorna no ano seguinte ao Brasil, trazendo consigo o rigor do racionalismo de sua formação italiana. Levi projeta uma série de edifícios residenciais, comerciais, corporativos e industriais e, em 1941, associa-se a outros dois arquitetos: Roberto Cerqueira César (1917-2003) e Luiz Roberto Carvalho Franco (1926-2001). Em 1945 torna-se membro do Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM). Rino Levi e equipe, participaram do concurso para o Plano Piloto de Brasília em 1956-57, obtendo o terceiro lugar.
Além da residência citada, outras obras de sua autoria também foram tombadas pelo Condephaat, como por exemplo o projeto para a Sede do IAB-SP (1947), sendo este o caso mais recente. Além do projeto para a Sede, o arquiteto se empenhou para a regulamentação profissional, lutando por uma ruptura do modelo vigente no campo disciplinar da arquitetura: Levi propunha que o profissional fosse responsável pelo projeto arquitetônico, mediando cliente e construtor. Sua busca por uma arquitetura moderna e racionalista encontrava fôlego de mesma intensidade na integração com a paisagem.
Já Roberto Cerqueira César (São Paulo - SP, 1917 - Ourinhos - SP, 2003), formado em engenharia e arquitetura pela Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) em 1940, foi um dos fundadores do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), ocupando a vice-presidência por duas gestões consecutivas em 1950 e 1951. Além disso, atuou como docente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, de 1954 a 1966, e escreveu para o jornal O Estado de S.Paulo, entre os anos de 1958 a 1975, na coluna “Urbanismo”, sobre diversos temas relacionados ao campo da arquitetura no intuito de orientar
a sociedade e futuros arquitetos. Em 1991, rompe com a Rino Levi Arquitetos Associados, juntamente com o arquiteto associado Paulo Bruna, formando ambos um novo escritório e assegurando a continuidade dos princípios arquitetônicos de Levi.
Roberto Burle Marx (São Paulo - SP, 1909 - Rio de Janeiro - RJ, 1994) atuou em diversas obras em parceria com o escritório de Levi, consagrando a busca pela integração das artes e da paisagem com a arquitetura. Alinhado às vanguardas artísticas do concretismo e construtivismo, Burle Marx projetava plantas baixas a partir de uma abstração moderna: caminhos eram criados com formas sinuosas e/ou retilíneas e grandes manchas de vegetação desenhavam o espaço, configurando verdadeiras telas. Muito além de paisagista e arquiteto, com uma prática artística plural, também atuou com Lúcio Costa e Oscar Niemeyer.
IMPORTÂNCIA PARA O MOVIMENTO MODERNO
O projeto expressa as características da arquitetura moderna brasileira enquanto cânone: blocos bem delimitados de contornos retilíneos, pilotis, panos de vidro protegidos por grandes beirais, terraço em balanço, escada caracol com degraus suspensos, painéis cerâmicos e jardins que reforçam a relação com o entorno e o contexto natural do sítio. A racionalidade da concepção espacial e estrutural remontam a tradição moderna brasileira juntamente com os elementos tradicionais de nossa produção, que são reinterpretados através dos grandes beirais, do alpendre e dos painéis.
Redação da ficha: Tatiani Amadeu de Freitas, Fernanda Millan Fachi (Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo IAU-USP).