SOBRE A OBRA

Projetada como residência do arquiteto, a casa ocupa praticamente todo o terreno, de doze metros de largura por quinze metros de profundidade, desmembrado de maneira incomum para um lote urbano. Articula o programa em diferentes níveis a partir da ideia de uma planta binuclear, concentrando as áreas de convívio diurno no térreo e as de permanência noturna nos pisos superiores. Cozinha, área de serviços e banheiros compõem o núcleo hidráulico e incorporam o conceito de workplace ou utility core presente nas usonian houses wrightianas. No térreo se localiza a garagem, área de serviços, lavabo e hall, três degraus acima o estar e o jardim social. Em nível intermediário, o estúdio que abrigou durante muitos anos o ateliê de projetos do arquiteto, e no nível superior a área íntima. Há ainda dois outros níveis intermediários, o estar privativo abaixo do estúdio no qual Castro Lima mantinha sua pequena oficina e um solário acima do mesmo estúdio cujo acesso se dá por uma escada helicoidal implantada em momento posterior ao projeto original. As áreas comuns, amplamente iluminadas, parecem buscar expandir-se além do lote, enquanto dormitórios e banheiros se reduzem ao espaço mínimo funcional. Castro Lima explora aqui soluções econômicas como a estrutura deixada à mostra, o mobiliário em alvenaria, a iluminação embutida em nichos executados no momento de concretagem das lajes e a opção por preservar a textura do tijolo aparente ou com pintura aplicada sem reboco. Volumes circulares destacados da fachada abrigam os boxes dos banheiros. A forma curva se repete no muro que delimita a área de varais. Apesar de compacto, o volume busca ganhar certa horizontalidade a partir da projeção da laje de piso, recurso recorrente na maioria de seus projetos. A cobertura se dá através de três abóbadas que vencem vãos de três metros. Estas comparecem tanto na laje de cobertura, quanto no piso do pavimento superior, sobre o qual foi instalado revestimento vinílico. Nos quartos, o armário embutido com divisão intermediária dispensa as portas. As camas em concreto são interceptadas por duas lâminas, uma vertical que as separa dando origem às cabeceiras e uma horizontal que serve como apoio lateral. O aproveitamento racional dos espaços prevê ainda área para repouso e trabalho e propicia ambientes de leitura através de iluminação indireta.

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IMPORTÂNCIA DA OBRA PARA O MOVIMENTO MODERNO 

O projeto revela aspectos da arquitetura brutalista produzida em São Paulo, como a utilização de um núcleo ordenador, a unificação espacial interna no qual coexistem distintas atividades, a configuração espacial através de volumes fechados, o material deixado à mostra e a racionalização construtiva com o emprego de técnicas populares, trazendo ao debate a pluralidade de influências e filiações estilísticas que permeiam a escola paulista e contribuindo para a difusão da arquitetura moderna no interior do estado de São Paulo.

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SOBRE OS AUTORES 

Luiz Gastão de Castro Lima (1927-2003) nasceu em São Carlos, interior paulista, cresceu em um ambiente familiar ligado às artes e à literatura e recebeu influências diretas dos amigos Luiz Saia e Oswald de Andrade Filho. Após ter cursado dois anos na Escola Politécnica, transferiu-se para a recém-criada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, a contragosto dos pais, que desejavam ter um filho engenheiro. Declaradamente adepto a Frank Lloyd Wright, fez parte da segunda turma da FAU-USP, ao lado de Joaquim Guedes, Ariaki Kato, Ginez Velanga e Toshio Tone, participando dos embates entre wrightianos e corbusianos. Em 1956, recém-formado, seguiu carreira acadêmica tendo sido professor da graduação e pós-graduação na UNB, UNESP, UFSCar, EESC e FAU. Como arquiteto pioneiro em São Carlos, conciliou a rotina acadêmica com a vida no escritório, sempre interessado nas tecnologias de ponta e em suas aplicações na construção. Caminhou pela arquitetura, paisagismo, planejamento, design industrial, acústica, estrutura e comunicação visual, trazendo esse conhecimento ao canteiro e calculando a estrutura de praticamente todas as suas obras. Em 1960, após quatro anos lecionando na FAU, foi indicado para acompanhar as obras do campus da USP em São Carlos, projetando vários de seus primeiros edifícios.

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Autores da ficha: Cristiane Kröhling Pinheiro Borges Bernardi

Data da ficha: Novembro de 2019

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